segunda-feira, 9 de maio de 2011

CANA-DE AÇÚCAR E FREGUESIAS
            O cultivo da cana-de-açúcar – secundado pelo de milho, de feijão e de arroz – ensejou a ocupação do local. O açúcar e a aguardente fizeram prósperas muitas sesmarias que, aos poucos, iam-se transformando em importantes povoados. O povoamento de Iguaçu deu-se da mesma maneira que nas demais partes do Brasil. “As plantações se localizavam à margem dos rios. As casas iam-se  aglomerando em relativa distância uma das outras. Construía-se uma capela e logo atrás, ou mesmo dentro, o cemitério. Dessa forma, surgiram as freguesias.  As freguesias tiveram papel importantíssimo na criação da estrutura administrativa da colônia. Dentro da capela matriz se abrigava o núcleo administrativo que organizava e animava o arraial. Ali se faziam os registros de nascimentos, de casamentos, de óbitos, de inventários.
            A mais antiga freguesia da região, segundo José Matoso Maia Forte, foi a de Nossa Senhora do Pilar de Iguaçu, cuja data de criação seria l637. Posteriormente, surgiriam as de São João Batista de Trairaponga (l647); Santo Antônio de Jacutinga (l657); Nossa Senhora da Piedade de Iguçu (l719); e por último a de Nossa Senhora de Marapicu (1759).
            A cana-de açúcar, como já dissemos anteriormente, foi um importantíssimo ciclo econômico da região. Não se sabe exatamente quando ela começou a ser plantada em terras fluminenses, mas Jean de Léry - teólogo , autor do livro “Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil” e que viera com a expedição de Villegagnon, em l565 -  afirmava ter visto canaviais em todas as partes do Rio de Janeiro. 
            Em Iguaçu, o cultivo da cana teve início em 1611. É através do Frei D. Clemente  Maria da Silva Nigra  que temos notícia do primeiro engenho da região, localizado em terras de São Bento, hoje pertencentes ao Município de Duque de Caxias. “Em relação à cidade de Duque de Caxias – segundo o pesquisador Armando Valente – D.Clemente fez publicar  em 1943, na Revista    7 do  Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, um interessante estudo sobre a propriedade rural  que os monges beneditinos possuíram por mais de três séculos, às margens do rio Iguaçu, na Baixada Fluminense.”
            Nesse trabalho intitulado A Antiga Fazenda de São Bento, em Iguaçu, D. Clemente revela preciosas informações a respeito da ocupação e utilização do solo caxiense, desde a primeira invasão francesa de Villegagnon, no século XVI até 1921, quando se deu a desapropriação da fazenda pelo Governo Federal. O primeiro engenho da fazenda, construído em 1611, funcionou  ininterruptamente por trinta e cinco anos e sua produção era enviada para o Reino.  Com a fundação dos engenhos de Campos, Camorim e Vargem Pequena, em terras mais produtivas e que exigiam menor aplicação de recursos em trabalhos de infra–estrutura, o engenho de Iguaçu foi se tornando obsoleto e anti-econômico. Mais tarde seria desativado.
            O último inventário, realizado em 1685, dava conta da existência de quarenta e oito escravos de ambos os sexos trabalhando nas terras da fazenda.
            Com o abandono dos canaviais, as terras de São Bento passam a ser utilizadas, durante algum tempo, como pasto. Já no início do século XVIII, ali podia ser vista uma promissora lavoura de mandioca para a produção de farinha. Durante a invasão francesa de 1711,  a fazenda de São Bento abasteceu com gêneros alimentícios as tropas que vieram de Minas  para dar combate aos invasores.
            Um novo engenho, movimentado por animais, seria inaugurado em 1870. Teria como finalidade aumentar a produção de farinha.
            É importante assinalar que, desde os primeiros tempos, a olaria da fazenda produziu tijolos, ladrilhos e telhas para si e para as construções do Mosteiro do Rio de Janeiro, além de comercializá-los.
            O prédio que lá está, ainda hoje resistindo ao tempo e ao descaso dos homens, teve sua construção iniciada em 1754. A Igreja da Fazenda, atualmente sem o telhado e com o reboco destruído, é “provavelmente” obra do abade Frei Mauro das Chagas e sua edificação foi feita entre 1645 e 1648. Inicialmente foi dedicada a Nossa Senhora da Purificação, Candelária ou Candeias. Com a criação da Irmandade do Rosário dos Pretos, passou a chamar-se de Nossa Senhora do Rosário de Iguaçu. Tudo leva a crer, segundo o arquiteto Joaquim Cardoso, que o prédio da Fazenda de São Bento serviu de modelo para as muitas construções rurais da Baixada Fluminense.
            É interessante transcrever a opinião do professor Armando Valente, publicada na Revista Caxias Magazine de setembro de l997:
“Tombado pelo SPHAN em 10/ 07/57 com inscrição no Livro de Belas-Artes, encontra-se no momento desativado e sem qualquer tipo de utilização. Entregue ao abandono total, já podemos adivinhar o funesto e inevitável destino que o espera.

JACUTINGA

            A Fazenda de São Bento estava localizada na Freguesia de Santo Antonio de Jacutinga.
            Santo Antônio de Jacutinga, terceira freguesia da região, não alcançou a prosperidade das demais. Segundo Milliet de Saint-Adolphe, autor do Diccionario geographico, historico e descriptivo do Imperio do Brasil – Paris – 1845, os limites de Jacutinga eram: ao norte com a Freguesia de Pilar e Iguaçu, ao poente com a de Marapicu, ao sul com a de são João Batista e ao nascente com a Baía de Guanabara.
            Em Memórias Históricas do Rio de Janeiro, Pizarro descreve a Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga assim:
“Seu território compreende a extensão  de 9 léguas, numeradas de leste a oeste; porém na largura é muito irregular (como tôdas  as do Bispado), por abranger em alguns lugares a extensão de duas léguas, em outros, pouco mais , e ainda menos. .. Nessa circunferência numera  350  fogos e mais de 3500 pessoas adultas...Onze fábricas de açúcar, uma de aguardente e algunas de barro, trabalham nesse distrito, em cujas terras se cultiva a cana, a mandioca, o café, o milho e legumes...Na vizinhança da Matriz tem formado o povo um pequeno arraial com casas cobertas de telha, onde se alojam os seus proprietários, e vivem por todo o ano  alguns moradores, por motivo de mercâncias.”
            Parte das terras da Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga ajudaria a formar os atuais municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias.
            Alguns pesquisadores da história de Duque de Caxias afirmam ser Pilar o núcleo inicial da cidade.
            A freguesia era, na verdade, uma povoação sob o aspecto eclesiástico, que  indicava a importância de determinado local e a possibilidade  dele se constituir em futuro município.  Em interessantíssimo artigo publicado na Revista FEUDUC (nº 01, agosto de 1999), o historiador  José Cláudio Souza Alves afirma que:
“com as Freguesias montou-se a base de ocupação inicial da região no período colonial.  Seus núcleos, invariavelmente às margens de um rio, eram formados por uma Igreja Matriz, por pequeno comércio e oficinas e por um porto responsável pelo transbordo da via terrestre para a via fluvial e vice-versa, das mercadorias que circulavam entre o litoral e o planalto. A religião estabelecia a justificativa universal que ia  desde o nome da freguesia até as relações escravistas. Assim, Nossa Senhora do Pilar de Iguaçu, São João de Meriti, São Nicolau do Suruí, Santo Antônio de Jacutinga, Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu e Nossa Senhora de Marapicú, mais do que a mistura de nomes de santos católicos com nomes de lugares indígenas constituíram a sede administrativa, social e ideológica demandada pela produção escravista”.
Iguaçu, célula-mater de muitos dos atuais municípios que hoje formam a região metropolitana do Rio de Janeiro, foi formado a partir da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de Iguaçu. Segundo estatísticas realizadas no início do século XIX, as Freguesias de Trairaponga, Jacutinga, Piedade de Iguaçu, Marapicu e Pilar possuíam um total de aproximadamente 1983 residências e 18.705 habitantes, sendo 7550 livres e 11.155 escravos. A mais antiga era Pilar que se limitava ao norte com a de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu,e a oeste com a de Santo Antônio de Jacutinga

PILAR
            Pilar ficava à margem  do rio que lhe é homônimo e, ao que tudo indica, apresentava notável desenvolvimento agrícola., graças a um engenho e diversas engenhocas que produziam açúcar e aguardente. O arroz, o feijão, o milho e mais tarde, o café foram cultivados na região. Uma olaria que fabricava telhas e tijolos completava seu quadro econômico.
            Segundo Noronha Santos, em “Crônicas da Cidade do Rio de Janeiro”, Pilar possuía, em 1789,cerca de 3.895 habitantes, sendo 2.727 livres e 1.168 escravos. Dessa forma, a região apresentava maior densidade demográfica em relação às demais freguesias vizinhas.
            O rio, navegável em cerca de 12 quilômetros, permitia o escoamento da produção das lavouras ribeirinhas e de serra acima. Pilar era ainda ponto de passagem e abastecimento de parte das tropas que vinham do interior ou para lá se dirigiam.
            Tudo isso fez com que Pilar desfrutasse de uma prosperidade só superada por Iguaçu e Estrela.
  A decadência de Pilar  teve início durante a Regência e agravou-se com a insalubridade de suas terras, assoladas endemicamente desde 1833 pelo impaludismo.
            Ao findar o século XIX, Pilar era um local fustigado pela opilação. Além de sua famosa igreja, pouca coisa se mantinha de pé, e,  dentre elas o casarão onde morou Mota Saião, o Barão do Pilar. Segundo Mattoso Maia Forte:
“Ele próprio já era uma ruína, na sua velhice amargurada, empobrecido, tendo visto seus bens arruinados, alagados pelas cheias do rio, que no passado, lhe havia enchido a bolsa.”
Este foi o triste fim imposto ao Barão do Pilar.  O casarão que serviu de sede à sua fazenda não mais existe, ficava na atual rua Pedro de Souza, no Bairro Jurema.
            Hoje, Pilar faz parte do Segundo Distrito de Duque de Caxias, cuja sede está localizada em Campos Elísios. O rio, atualmente desfigurado pelas obras de saneamento realizadas na década de 30 por Hildebrando de Góis, não mais se presta para a navegação, tornada inútil pela estrada de ferro e pela rodovia. Próximo da velha igreja – testemunha em pedra e cal dos tempos que se foram – fica a Refinaria Duque de Caxias, anunciando a modernidade. Os canaviais e as roças de outrora, cederam lugar aos loteamentos que se desenvolveram à margens das rodovias (Washington Luiz e Kennedy). Um sem número de pequenas indústrias e um florescente comércio ajudam a sustentar a economia do Distrito.
            Interessantíssimo é o relato de Magalhães Corrêa sobre Pilar. Num trecho de sua coluna, “Baixada e Montes Fluminenses”, publicada no Correio da Manhã de 3 de março de 1940,  assim nos fala:
“Fiz a última excursão a Pilar a pé, a partir do Lote 15, km 22 da Estrada Rio-Petrópolis, por ter viajado de ônibus do Arraial do Chim, procedente de Caxias, o qual no citado lote toma a esquerda deixando a estrada.
A estrada, asfaltada, é dividida pela faixa branca ao centro, e lateralmente, meio-fio e traçado entre terrenos de aluvião, onde brejais estão sendo drenados; aparecem com quinhentos metros de intervalo casas de Colonos Agrícolas da Fazenda de São Bento, ocupada por japoneses e nacionais.
O quilômetro 23 marcava 2.900 metros de Pilar e logo depois apareceram grandes valas laterais e a maior, que atravessa a estrada, sob a ponte de cimento que se liga a um grande aterro, que por sua vez lança  a grande ponte de ferro e cimento sobre o rio Iguassú, onde trabalhadores preparavam as taipas “Polder” do Iguassú: junto a ponte, um grande balão de carvão fumegava, e, ao lado lenha das margens do rio.
No quilômetro 24, isto é, a 3.900 metros de Pilar, à margem direita da estrada, acha-se um grande sambaqui, onde se nota, perfeitamente acamada  sua estrutura característica, ao fundo uma casa de colono da Fazenda de São Bento.”
            Depois de constatar a presença de lenhadores que, no quilômetro 25, “manejam o machado sem dó nem piedade”, Magalhães Corrêa faz uma grave denúncia:
“Presentemente, dali, partem caminhões carregados de lenha e carvão, única produção do território da antiga freguesia do Pilar; a lenha como produto da derribada sistemática das capoeiras remanescentes das antigas florestas e o carvão obtido pelo processo bárbaro dos balões introduzidos, no Brasil pelos italianos, transformando a terra ubérrima em estéril, em virtude da destruição das bactérias do solo pela constante fogueira.”
            Pilar encontrada por Magalhães Corrêa é uma região decadente, com casarões em ruínas,  muitos dos quais abandonados por seus antigos moradores; assolada pela malária e devastada, no que restara de suas florestas,  pelo machado de lenhadores
            O ciclo da cana-de-açúcar foi responsável pela formação da fortuna de muitos fazendeiros que aqui se haviam fixado. Até a segunda década do século XX ainda se podiam ver diversos canaviais na Baixada Fluminense, mas sem a significação econômica de outrora para a economia do recôncavo. O cultivo da cana-de-açúcar fora sendo, paulatinamente,  transferido para o Município de Campos, onde, finalmente, se concentrou, graças aos estímulos e benefícios ali alcançados.

CICLO DA MINERAÇÃO
A descoberta do ouro, velho sonho do colonizador, coincide com a crise da agro-indústria do açúcar.  Esse novo ciclo de nossa economia, em tão boa hora chegado, ensejaria profundas transformações na Colônia.
Ao contrário da atividade açucareira, a mineração não exigia grandes capitais daqueles que, em verdadeira corrida, se dirigiam para o altiplano em busca de enriquecimento rápido. Esse fato provocou um tal crescimento da população mineira que, em pouco menos de um século ela se multiplicaria por dez, passando de 300.000 habitantes, em 1700, para 3.000.000, em 1800. Mas as consequências do surto minerador não ficariam aí, a ele também poderímos creditar a formação de núcleos urbanos; o aparecimento de uma classe média influenciada pela ideologia liberal-burguesa; o desenvolvimento do comércio interno; a mudança da capital da Colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro; o deslocamento do eixo econômico do nordeste açucareiro para o centro-sul minerador , além, é claro, da abertura de caminhos para o interior do Brasil.” (A ESTRELA QUE SE APAGOU E O SEU PORTO INEXISTENTE – Rogério Torres – Revista Recado de Cultura – 1986)


O ciclo da mineração deixou-nos também alguns de seus efeitos. Foi através dele que a Baixada Fluminense assumiu uma de suas funções mais importantes, ou seja, a de ponto obrigatório de passagem daqueles  que se dirigiam para as “Minas Gerais” ou de lá regressavam. Nesse momento, a Baixada Fluminense foi fundamental para a circulação de pessoas e mercadorias. Sendo os “caminhos de terra”, poucos, precários e perigosos, nada mais natural que o transporte se fizesse através dos rios, onde eles existissem. Aqui os rios eram abundantes e, integrados à Baía de Guanabara, faziam do local um ponto de união entre esta e os caminhos que subiam a serra  em direção ao interior do país. Até o advento da ferrovia, os portos foram importantíssimos pontos de irradiação de povoamento. Estrela, por exemplo, foi marco significativo desse período de nossa hostória. À sua volta cresceu uma freguesia que no século XIX  foi transformada em município, graças à prosperidade que alcançou. Não apenas por seu porto, mas também por sua produção agrícola, Estrela figurava, ao lado de Parati, Angra dos Reis, Campos e Cabo Frio como grande centro de condensação humana, segundo assinalou Oliveira Viana.
     


CAMINHO NOVO
            Todavia, nem o Porto da Estrela, Pilar ou Iguaçu teriam maior expressão não fossem as necessidades oriundas da mineração e, dentre elas a de se abrir um caminho rápido, econômico e seguro, que ligasse o Rio de Janeiro às “Minas Gerais”.  Em carta datada de 24 de maio de 1698, Artur de Sá e Menezes expunha, para o Rei, a necessidade de uma estrada para as minas que facilitasse a comunicação com o Rio de Janeiro, em favor do aumento das lavras, da arrecadação dos quintos e até da criação de gado, pois os Campos de Goitacases já estavam exauridos. Diante dessas necessidades, Artur de Sá e Menezes vai para São Paulo, nesse mesmo ano, à procura de quem pudesse abrir esse caminho. Amador Bueno foi o primeiro que lhe apareceu, entretanto, foram tantas as  suas exigências que Artur de Sá rejeitou seus préstimos.
  Sabedor do fato, Garcia Rodrigues Pais ofereceu-se para a empreitada, contanto que o Governador o auxiliasse na parte do Rio de Janeiro. Ás suas próprias custas, e tendo como auxiliar direto um cunhado, “alguns homens brancos e 40 negros”, deu início ao penoso trabalho que, em 1704, seria entregue ao trânsito de pedestes e animais. Vinte anos depois, Bernardo Soares de Proença abriria uma variante ligando Pati do Alferes à Serra dos Orgãos e esta ao Porto da Estrela, amenizando as dificuldades vividas pelos tropeiros e viajantes. Pelo “Caminho do Proença” ou “Caminho do Inhomirim”, durante mais de um século, passaram as tropas que transportavam ouro e pedras preciosas que, do Porto da Estrela eram embarcados para o Rio de Janeiro.
  Sobre os caminhos que, partindo do Rio de Janeiro, atingiam as “Gerais”, assim escreveu o historiador Guilherme Peres no ensaio Os Caminhos do Ouro:
“Durante o século XVIII, três eram os caminhos oficialmente reconhecidos entre o Rio de Janeiro, através da Baixada Fluminense e a região das Gerais.
                                               Descritos em ordem cronológica de abertura tínhamos:
“Caminho Novo do Pilar” ou do “Guaguassú” ou ainda de Garcia Rodrigues Pais, aberto entre 1699 e 1704.
“Caminho Novo do Inhomirim” ou “Caminho de Bernardo Soares de Proença” ou “Caminho do Proença”, aberto em 1724.
“Caminho do Mestre de Campo Estevão Pinto” ou “Caminho Novo do Tinguá”, aberto em 1728.
Queremos assinalar que o adjetivo “novo” era aplicado à outro caminho que viesse surgir, encontrando-se dessa forma vários “caminhos novos” naquela época.”
            Todos esses caminhos, depois de galgar a serra do Mar, se encontravam em Stº. Antônio da Encruzilhada, pouco antes de atingir a margem direita do rio Paraiba. Daí em diante, juntavam-se em um só caminho.

PORTO DA ESTRELA

A importância dos rios e da Baía de Guanabara para o trânsito de pessoas e mercadorias pode ser comprovada através das palavras de Daniel P.  Kidder:
“Aos poucos, porém, os fazendeiros do interior, foram se convencendo de que para eles era mais interessante descarregar em Iguaçu o café, o feijão, a farinha de mandioca, o toucinho e o algodão; daí era mais econômico mandar as mercadorias para o mercado por via marítima que por terra.”
As  observações de Kidder ficaram registradas em dois livros: Reminiscencências de Viagens e Permanência no Brasil (1845), dividido em duas partes, Províncias do Sul e Províncias do Norte, e O Brasil e os Brasileiros (1857), escrito em co-autoria com o também pastor James C. Fletcher.  Os textos de Kidder são registros de um observador arguto e muito bem informado sobre os mais variados aspectos da sociedade, da economia e da história de nosso país.
            O naturalista Auguste de Saint-Hilaire assim se referiu ao Porto da Estrela:
“Parti ao meio-dia do Rio de Janeiro e cheguei às seis da tarde ao Porto da Estrela, onde o rio já perde bastante em largura. Esse pequeno povoado pertence à Paróquia de Inhumirim e possui apenas uma capela, construída numa elevação e dedicada a Nossa Senhora. Desde que comecei a viajar pelo Brasil nenhum outro lugar me pareceu tão cheio de vida e de movimento quanto esse porto. O viajante vê-se tonto no meio dos burros de carga que chegam e partem, dos fardos, dos tropeiros, das mercadorias de toda espécie que atravancam o povoado.. Lojas bem providas fornecem aos numerosos viajantes quase tudo o que ele necessita.


Apesar do esgotamento das minas de ouro, o Porto da Estrela continuava  sendo o principal caminho para o interior. Seu progresso não cessava. A vinda da Família Real para o Brasil contribuiria, ainda mais para o desenvolvimento da região, devido à transferência da Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas para a Raiz da Serra. A decadência  do Porto da Estrela teve início com a inauguração de nossa primeira estrada de ferro, em l854, ligando o Porto de Mauá, em Pacopaíba, à estação do Fragoso. A inauguração de outra estrada de ferro, a D. Pedro II, a cólera morbus e a abolição da escravatura, selaram definitivamente o destino do famoso porto, citado em seus livros por tantos e ilustres viajantes, que por ali passaram entre os séculos XVIII e XIX.















                                 

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